À moda da ditadura, prefeitura de Montes Claros tenta calar estudantes

Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), semelhante ao já famoso Bope, protagonizou cenas de violência e terror durante repressão à manifestação pelo passe livre na cidade. Estudantes revoltados puxam palavra de ordem: Athos, pede pra sair! Confira relato enviado à redação pelos colaboradores do Vermelho Minas em Montes Claros, Ramon Foneca e Rodrigo de Paula.


A segunda passeata da jornada de lutas pelo meio-passe em Montes Claros, norte de Minas, realizada na tarde desta quinta-feira (24), terminou em pancadaria, abuso de poder e agressão por parte do Grupo Tático da Polícia Militar, a mando do governo Aécio e do prefeito Athos Avelino.

O objetivo do protesto foi cobrar as promessas feitas pelo prefeito juntos aos estudantes no último dia 27 de março, quando 5 mil jovens saíram à ruas da cidade reivindicando a criação de uma comissão estudantil para elaborar o projeto de lei do meio-passe em consenso com representantes do poder público municipal.

Na ocasião, os estudantes conseguiram ser ouvidos pelo Vice-Prefeito Sued Botelho (PT) e o presidente da Transmontes (empresa de transporte público de Montes Claros), que se comprometeram formar a comissão, na qual os estudantes teriam vez e voto nas discussões. Eles solicitaram um prazo de 45 dias para elaborarem o projeto e debater com os estudantes os dados da proposta.

Segundo os estudantes, entretanto, a proposta foi sabotada pelo prefeito, que preferiu montar uma comissão “laranja”, inclusive com pessoas que já se declararam contrárias ao meio-passe. A indignação acabou gerando o protesto desta quinta.

Rumo à prefeitura
Após a concentração de milhares de estudantes na Praça Doutor Carlos, no início da manhã, a passeata seguiu rumo a Prefeitura Municipal. Aos gritos de “meio-passe já!”, os estudantes de cerca de 20 instituições de ensino da cidade percorreram a região central da cidade, sempre apoiados pela população montesclarense.

Após ocuparem o canteiro da prefeitura, os estudantes tiveram a notícia que o prefeito não se encontrava no local. Eles esperaram quinze minutos (referente aos 15 anos de espera pela aprovação do meio-passe) antes de anunciar a ocupação do salão principal da prefeitura, reivindicando a presença do prefeito Athos Avelino para discutir pessoalmente, desta vez, sem enviar representante.

O acordo feito pelas entidades estudantis e mediado pelo vereador do PCdoB Lipa Xavier (autor do Projeto de Lei do Meio-passe estudantil em Montes Claros) era que se o Prefeito se reunisse pessoalmente, os estudantes desocupariam o prédio e aguardariam do lado de fora.

Athos Avelino não apareceu. Nem mesmo o vice-prefeito. O presidente da Câmara Municipal, vereador Cori (PPS), disse que iria conversar com o prefeito para que ele comparecesse, porém, Athos sequer atendeu o telefone. Em protesto, os estudantes se sentaram no chão e anunciaram a continuidade da ocupação, com disposição para durar até mesmo dias.

Bala, pimenta e repressão
Em represália, a tropa de choque e o Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), semelhante ao já famoso Bope, partiram para cima dos manifestantes, muitos menores de idade, forçando a saída deles do prédio. Daí para frente o que se viu foi um espetáculo de violência da PM. Spray de pimenta, escopetas com balas de borracha, granadas de efeito moral, cães e muita pancadaria.

A situação ficou mais tensa no momento em que um estudante tentou sair da prefeitura e foi agarrado por um policial que tentava prendê-lo. O estudante revoltado reagiu e logo mais três policiais tentaram imobilizá-lo. Enfurecida, a multidão tentou intervir, e foi dispersada por tiros de borracha e bombas de efeito moral.

Muitos foram carregados por colegas, pois estavam desmaiando e sendo sufocados. Após grande parte dos estudantes desocupar o salão principal, um forte esquema de segurança da PM empurrou com escudos e cassetetes os estudantes escadaria abaixo. As lideranças estudantis que permaneceram no prédio tiveram voz de prisão anunciada.

Prisões
Cerca de 20 estudantes foram presos, sendo que 15 deles são dirigentes estudantis municipais e estaduais. Prestaram depoimento o presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE-MG), Diogo Santos; o presidente da União Colegial de Minas Gerais (UCMG); Flávio Nascimento; o presidente da União da Juventude Socialista (UJS) em Montes Claros, José Lousada Neto; a vice-Minas da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), Luiza Lafetá; o diretor de políticas institucionais da UBES, Thiago Mayworn; além do diretor estadual da UJS, Danniel Coelho. Até o fechamento desta matéria eles ainda não haviam sido liberados.

Saldo da bárbarie: 23 feridos
No total, foram contabilizados 23 feridos por balas de borracha e estilhaços de bombas. Uma estudante de treze anos teve o seio cortado profundamente por um destes estilhaços e foi levada ao hospital Santa Casa. A jovem estudante Lunny Pereira foi empurrada escada abaixo e desmaiou.

Uma senhora que estava dentro da Prefeitura pra pagar o Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) foi jogada escadaria abaixo. O engenheiro agrônomo Frederico Lima, ex-coordenador geral do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Viçosa (DCE-UFV), foi mordido por um cão e teve seu braço ferido por uma bala de borracha. Daniel Dias, estudante de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), foi agredido por diversas vezes e também empurrado escada abaixo.

Audiência
Ainda hoje, a partir das 19h30, a Câmara Municipal, atendendo a requerimento do vereador Lipa Xavier (PCdoB), irá realizar Audiência Pública para discutir o projeto de lei do meio-passe. A atividade ocorrerá no auditório do Centro de Ciências Humanas da Unimontes.


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14º Congresso da UJS

14º Congresso da UJS iniciará novo ciclo na vida da entidade

“É importante afirmar o sucesso que foi o projeto do Relançamento da UJS [realizado em 96]. Só nos tornamos o que somos por conta da vitória desse projeto. Agora é preciso avançar, precisamos de um novo impulso, encarar novos desafios. A nova fase busca uma UJS de milhões”, disse Marcelo Brito da Silva, o Gavião, presidente nacional da União da Juventude Socialista (UJS) em entrevista ao Vermelho.

Por Carla Santos




Além de esclarecer as características da nova fase que o 14º Congresso inaugura para UJS, a liderança também comentou suas reivindicações para as eleições municipais de 2008.

“Durante essa campanha devemos combater a apatia. Devemos visitar milhares de salas de aula, construir várias manifestações e ganhar muitos jovens pra atuar de maneira mais firme e consciente na vida política do país”, disse Gavião.

Uma das novidades que devem permear o debate do próximo congresso - a se realizar de 29 de maio a 1º de junho na capital paulista – será a proposta de maior autonomia para as frentes de atuação da entidade e a divisão do acompanhamento do movimento estudantil (ME) em universitário e secundarista.

A recém fundada Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) foi um dos temas da entrevista. Segundo Gavião, a UJS optou por atuar na CTB porque a central “se propõe, junto com a juventude, a renovar o sindicalismo no Brasil”. A UJS também está comprometida com a campanha pela redução da jornada de trabalho.

Para Gavião, o maior desafio do 14º Congresso, será superar a mobilização do 13º, que filiou 80 mil jovens.

“Uma UJS robusta tem que entender a importância de diversificar, de explorar mais o ME, de cuidar mais da nossa ação na ponta. Estamos na reta final do congresso e já dá para falar que esse será o maior congresso da história da UJS”, afirma.

Leia abaixo a íntegra da entrevista.

Como você avalia a contribuição da UJS para o Brasil e para a juventude nos últimos dois anos?

Gavião
- A UJS tem dado uma grande contribuição à luta política pela construção de um Brasil mais justo e soberano. No último período isso só se fortaleceu, vide as passeatas estudantis, as lutas e campanhas desenvolvidas por várias frentes. A UJS também jogou grande papel protagonizando o 16 de agosto que entrou pra história como um ato decisivo pra garantir a continuidade do mandato do presidente Lula e depois na grande campanha pela reeleição em 2006.

O 14º Congresso tem como lema "Se o presente é de luta, o futuro nos pertence". Qual é o seu significado?

Gavião
- Esse lema tem dois objetivos. O primeiro esta relacionado à necessidade de ganhar cada vez mais a juventude para a idéia de que as mudanças que queremos, sejam elas profundas ou não, só ocorrem se nosso comportamento no presente for outro. Queremos com esse congresso ampliar a participação política da juventude, intensificar as lutas por educação de qualidade, por emprego pra juventude, contra a violência... e, assim, sermos donos da construção de nosso futuro. O segundo objetivo tem ha ver com uma homenagem a Che Guevara, que esse ano completa 80 anos do seu nascimento e 40 anos de sua morte em combate. O Che é um símbolo importante da luta juvenil pela transformação. A UJS tem orgulho de manter erguida bem alta as idéias desse grande líder revolucionário.

A tese do 14º Congresso defende que a fase do Relançamento da UJS (inaugurada em 1996) terminou e que a organização vive um novo momento. Quais são as características mais evidentes desse "novo ciclo"?

Gavião
– Primeiro é importante afirmar o sucesso que foi o projeto do Relançamento da UJS, só nos tornamos essa força viva na sociedade hoje por conta da vitória desse projeto. A construção de uma nova fase se dá justamente por uma percepção de que nossa organização precisa de um novo impulso, precisa encarar novos desafios. Precisamos nessa nova fase consolidar a UJS enquanto uma organização massiva e cada vez mais influente na sociedade. Para um novo tempo é preciso uma UJS renovada.

Além da campanha pelo voto aos 16, uma conquista da UJS, a tese também defende que o centro da plataforma eleitoral da juventude socialista nas eleições municipais de 2008 deve ser a conquista por mais espaços institucionais para o desenvolvimento de políticas públicas para a juventude (PPJs). Para além destes espaços, qual será a principal reivindicação da UJS em PPJs?

Gavião
– Mesmo com aumento na oferta de empregos no Brasil durante o governo Lula, esse ainda continua como um dos principais problemas juvenis. Esse ano as eleições são municipais e tratam de questões mais locais. Contudo, queremos debater com vários candidatos a prefeito e vereador a construção de espaços que tratem de maneira cuidadosa das especificidades da juventude, como a constituição de conselhos, secretarias e ou coordenadorias de juventude. Dessa maneira pretendemos envolver e responsabilizar os poderes públicos em todos os seus níveis pra que enfrentem o desemprego juvenil ouvindo mais a juventude. Uma das bandeiras que levantaremos será a da redução da jornada de trabalho sem redução de salários.

Dentre as iniciativas promovidas pelo governo Lula para a juventude qual você considera mais bem e menos bem sucedida?

Gavião
– Falar qual foi a melhor não é fácil, todas elas tem seu sentido e seu grau de importância. Poderia citar a Conferência Nacional de Juventude que é um grande espaço de participação que tem possibilitado uma grande mobilização por todo o país, ou ainda o ProUni, que significou um grande avanço na luta pelo acesso ao ensino superior. São todas muito positivas e dignas do apoio de nossa militância. A parte negativa fica pelo resultado final do Projeto do Primeiro Emprego pra Juventude, esse se revelou um fiasco. Vale à pena lembrar que nós da UJS já no seu lançamento ponderávamos sobre a eficácia deste projeto. Esse é um problema ainda sem resposta adequada do governo.

A tese orienta que o primeiro passo da juventude socialista nessas eleições "será combater a apatia e a despolitização impostas pelas idéias reacionárias". Como a UJS pretende enfrentar essa apatia?

Gavião
– A UJS é uma organização que nasceu pra travar essa batalha de idéias e durante a campanha eleitoral isso aparece com muita força. Tem sempre uma tentativa das idéias dominantes de desqualificar ou diminuir o potencial transformador que tem a juventude. Falam que política é sinônimo de corrupção, que não temos que nos meter com ela. Mas, enquanto isso, tratam de apoderar-se dela e manipular pra se perpetuar no poder. Durante essa campanha devemos combater essas idéias. As formas são as mais diversas: devemos visitar milhares de salas de aula, construir várias manifestações e assim ganhar muitos jovens pra atuar de maneira mais firme e consciente na vida política do país.

Na virada do século percebemos que a juventude prefere se organizar em coletivos, comunidades, grupos ambientais, culturais, esportivos e do Terceiro Setor a se organizar em entidades estudantis, comunitárias, sindicais e nos partidos. Como a UJS tem se relacionado com estas e outras formas de organização?

Gavião
– Valorizamos as mais variadas formas de participação. Nossas frentes e áreas de atuação têm se relacionado bastante com todas elas. Mais do que isso e a partir dessa relação, temos filiado muitos jovens ligados a ONG's. Dessa forma buscamos elevar o poder de intervenção desses jovens.

Entre os movimentos em que a UJS tem maior tradição está o movimento estudantil. Quais são as novidades que estão em debate para esta frente no 14º Congresso?

Gavião
– Nesse congresso estamos fazendo um grande debate sobre a necessidade de fortalecer a ação da UJS nas suas mais diversas frentes e, para isso, apresentamos a proposta da autonomia. Com autonomia, queremos fazer com que as frentes tenham a funcionabilidade que hoje vemos no movimento estudantil. As direções da UJS devem definir a política e ajudar na execução, mas a forma deve ser de responsabilidade dos atores de cada frente. No ME o desafio é superar nosso atual estágio e para isso estamos propondo medidas que reforcem essa frente. Uma delas é a divisão no acompanhamento do ME secundarista e universitário. Com isso buscamos elevar a qualidade de nosso trabalho e fortalecer nosso principal veio de ligação com a juventude.

Ano passado os jovens trabalhadores que atuam na UJS decidiram sair da CUT e atuar na Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). O que motivou essa decisão e qual é a perspectiva da UJS na CTB?

Gavião
– O que levou os jovens que militam na UJS e na CSC a apoiar a fundação de uma nova central foi á necessidade de construir uma forma renovada de fazer sidicalismo. Temos hoje em nosso país uma estrutura pouco participativa e até burocratizada nesse movimento. A CTB se propõe, junto com a juventude, a mudar essa realidade.

Hoje a UJS atua em 15 diferentes movimentos juvenis, está presente em 700 cidades e nos 27 estados com cerca de 100 mil filiados. Qual é a perspectiva organizativa da entidade nesse 14º Congresso?

Gavião
– A atual geração de jovens dirigentes da UJS tem nesse congresso uma grande responsabilidade que é a de manter o ritmo de crescimento. No último congresso chegamos a filiar cerca de 80 mil jovens, e todo esse esforço fez com que as direções estaduais fossem bem ousadas nesse 14º congresso, entendendo o desafio que temos a nossa frente. Queremos consolidar uma UJS massiva e pra isso temos que fortalecer as direções, multiplicar e estruturar melhor os núcleos, consolidar a diversificação. Uma UJS robusta tem que ser uma UJS que entenda a importância de diversificar, de explorar mais o ME, de cuidar mais da nossa ação na ponta. Estamos na reta final do congresso e já dá para falar que esse será o maior congresso da história da UJS.

Fonte: http://www.ujs.org.br