O palanque da juventude soteropolitana

A menos de seis meses das eleições cada vez menos jovens se interessam pela política

Segundo dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a Bahia possui o menor percentual de votos na faixa etária de 16 e 17 anos do Nordeste e fica em 18º lugar no quadro nacional. Apesar de ter lançado uma ampla campanha nacional e ter possibilitado um pré-alistamento pela internet, o Tribunal Superior Eleitoral registrou redução de 43% nas inscrições de eleitores de 16 e 17 anos em relação à última eleição. Foi somente 1,5 milhão de jovens inscritos em 2010, contra 2,7 milhões de eleitores há dois anos (2008). A influencia da família, de acordo com a cientista política Vitória Espiñera, professora e pesquisadora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), é um dos principais fatores que leva os adolescentes de 16 e 17 anos a fazer o título de eleitor: “quanto maior a escolaridade dos pais, mas politizada é a educação dos filhos”, avalia.

Muitos jovens não se interessam em ler reportagens políticas deixando de ficar atentos sobre como atuar na esfera democrática, porque a maioria das notícias sobre política é cheia de jargões, de “politiquês”, que segundo o jornalista Ricardo Setti, com uma linguagem que não transmite o assunto de forma direta para o público afastado do meio. E isso se deve ao fato de as pessoas acreditarem que a política é sinônimo de roubalheira e que os governantes não se movem para melhorar a vida dos cidadãos. Mas, na avaliação de Vitória Espiñera, não houve um aumento da corrupção, “com as políticas de alternância de poder no país, estamos podendo ver mais o que ocorre nas instituições políticas”. Espiñera interpreta, “com a precariedade do emprego, quando o jovem se vê à margem do mercado de trabalho, e diante da desintegração social, da educação e da saúde, ele fica cético em relação às próprias lideranças políticas. A idéia clássica da política, representativa e institucionalizada, passa a ser vista com descrença”.

Caio Marques, universitário, 21 anos, defende que “fazer política é importante, e fazemos isso o tempo todo, por exemplo, quando negociamos horário de voltar para casa com nossos pais. A gente tem noção de que corrupção, infelizmente, existe em escala assustadora; mas, a falta de interesse vem pela ausência de confiança nas instituições políticas”, e acrescenta, “gosto do assunto desde as aulas de história na escola, o que colabora muito para o meu interesse histórico, pelo registro e pela cobertura política. Eu gosto de entender tudo, de puxar os porquês de determinado caso. Acho que política sem história não existe”.

Allan Montenegro, estudante, 17 anos, afirma que lê, vai atrás das informações, discute e tenta aumentar o diálogo com os políticos, por exemplo, fazendo uso da rede social, Twitter.

O segundo fator que influencia jovens de 16 anos a se interessar mais por política é a participação em associações de moradores, grupos religiosos, organizações não-governamentais (ONGs), sindicatos, movimentos estudantis e partidos políticos. “A participação partidária é pequena, mas existe. O que vejo é um envolvimento relativamente grande em movimentos estudantis, principalmente nos grêmios escolares”, afirma Espiñera. Importante salientar que há um considerável estímulo dentro dos partidos políticos para que os jovens partidários se interessem em disputar eleições, todos se posicionam salientando a vantagem de eleitores jovens se identificarem com candidatos de sua faixa etária, dando-lhes a segurança de que vão influenciar, de muitas formas, nos planos de governo.

Nas últimas eleições, Allan participou dos debates dos candidatos à prefeitura, quando os prefeituráveis tiveram a oportunidade de mostrar suas propostas ao público jovem. “Percebi a presença de muita gente nos auditórios, e ver aquele público imenso mostra que as pessoas da minha idade se interessam pela política, sim, mas acham difícil participar, porque enxergam tudo como um mundo muito distante, só que as pessoas precisam colocar na cabeça que política não é só na época de eleição, ela acontece todos os dias”, conclui o estudante, Allan.


Mayra de Miranda (mayrademiranda@yahoo.com.br)

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